Assim que entrei no estabelecimento das bombas de combustível senti um calafrio: algo não batia certo. Acho que tive a certeza do que estava a acontecer, quando os meus olhos se cruzaram com os olhos doutra vítima. Imediatamente olhei em meu redor. Bandidos! Ao todo eram três - dois estavam de volta do balcão a efectuar o servicinho e o outro estava dissimulado pela prateleira dos jornais. Um deles fez-me sinal para avançar. Senti as pernas a fraquejar.
Enquanto avançava, pensei em tudo e mais alguma coisa: tão depressa julgava que era novo de mais para estar num aperto daqueles, como no instante seguinte me culpava por ser velho de mais. Um velho que desperdiçara uma vida inteira a pôr os sonhos de parte, com a desculpa de estar a economizar para quando chegasse a altura certa. As viagens que não fiz, o doutoramento que sucessivamente adiei, as aulas de violino que não ouvi, a prenda ideal que não encontrei...Mas porquê a mim, ó meu Deus?! Por momentos, deixei de ser ateu.
Aquela meia dúzia de passos, foram talvez os mais extenuantes que já dei. Pensava nos meus sobrinhos. É este o mundo que os espera? Senti um nó na garganta cada vez mais sufocante. Foi então que ouvi pela primeira vez a voz de um dos bandidos: pediu-me o dinheiro. Falava com certeza na voz, pois sabia que eu não iria oferecer resistência. Sem pestanejar, dei-lhe todo o dinheiro que trazia comigo. No final pergunta-me: o sr. deseja o talão? Nem lhe respondi.
Ao preço a que o combustível está, foi uma sorte não ter lá deixado um rim ou um fígado...
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1 comentário:
tá fixe...:)
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